Poemas destaques do mês de maio/2021 na Fazia Poesia

Confira os poemas que foram selecionados pela equipe de editores da Fazia Poesia no quinto mês de 2021

Editorial Fazia Poesia
Fazia Poesia
Published in
4 min readJun 1, 2021

--

Alô, poetas!

Já entramos no sexto mês do ano de 2021, metade do ano já se passou! 😱 A sensação é de que o tempo está voando mesmo. Em meio a tanta perturbação, em tantos sentidos, desejamos que, além de saúde, haja muita poesia para enfrentar os dias que seguem.

E, por falar nela, é com muita alegria em meio a tanta estranheza do contexto que anunciamos os poemas destaques de maio de 2021. É sempre um desafio escolher, porque são muitos poemas excelentes publicados em nosso portal todos os dias. Selecionar poemas dessa forma implica sempre escolher os bons poemas que entraram para os destaques e também não escolher os bons poemas que não entraram para os destaques. De todo modo, neste artigo, é possível apreciar uma boa leitura e conhecer mais dos autores da equipe interna que escreveram os poemas aqui destacados.

Que seja um bálsamo para as feridas que não saram, uma fênix para as cinzas que se impregnam, um portal para expandir novos mundos, uma anunciação para viver dias mais, dias melhores, uma utopia em meio à barbárie (e luta-articulação para que isso se concretize). Sem mais delongas, fiat lux, estenda-se o tapete vermelho para os poetas e seus respectivos poemas:

óculos de grau

de Ricardo Pinheiro

Quando saio à noite não levo os óculos de grau
Ao contrário:
Deixo-os bem guardados
Dentro da caixa
Entre a vitrola e a planta
(que esqueci de regar)

Entre o dito e o não dito
Penso que quem tem miopia é mais feliz

Qualquer poste aceso é lua cheia
Qualquer flor está viva
Qualquer pessoa é você

tua palavra

de DEBORA

a tua palavra crua
inunda
mar escasso
quero gota nos lábios secos
mar jorra
quero me molhar inteira
a tua palavra é tecida
fio a fio
eu achei ouro ao te ter
fiz coroa
sou tua rainha
minha palavra corre
a tua, espera
eu gosto da língua
que dobra na fumaça
quando mudo, me remexo
agonizo buscando seu som
a concha te engole
e eu mal ouço ruído
faço festa quando sai
celebro tua palavra
até madrugada
apazigua meus ouvidos
que ardiam ansiosos
tua palavra molda a boca
e molda o pensamento
de quem mal sabe ler entrelinhas
o subentendido é palco pra minha neurose
mas na palavra
enfim, descanso

sobriedade

de Geovana Morais

É uma coisa assim
Que vomita
Um cubo qualquer que rasga
Essa coisa assim convexa
A tragar a gente
De frente pro abismo
E se olhar de fora
Como quem vê dentro

De volta ao coração

de Chris Ritchie

ciclos
círculos
oculares
cerebrais
os fios dos cabelos
as pontas dos dedos
as meias-luas nas unhas
crescendo redondas
mamilos
orifícios
coxas
canais
você pode fechar os olhos,
pode olhar só seu umbigo,
sair de cena quando as nuvens de sol
espiralarem sobre os lagos,
sobre as pétalas e a boca dos vulcões
e ainda assim sentirá seu sangue correr por cilindros
de volta ao coração.
desde o átomo ao óvulo,
atravessando as íris,
o universo conspira contra os ângulos retos,
as superfícies planas
e as permanências.

sem título #2

de kamilla nina

os pratos de louça
lascam
a tinta amarela
descasca e o fundo branco se mostra;
algum dia ficarão escondidos na pilha
daqueles
que não usamos quando há visitas.

as canecas são as piores:
quebram.
então você passa a passar tempo encarando pedaços
imaginando
possíveis colagens.

(acontece que o tempo passa)

mas então, o vidro!
o maldito estilhaça.

e não resta nada
além
de um brilho profundo — irrecuperável
e não resta nada
além
de uma pá, uma vassoura
recolhendo o glitter — e o carnaval
descartável,
descartado.

no saco de lixo segue o bilhete:

cuidado.

peneira

de Guímel Bilac

o choro
que não deixo sair
é dentro de mim
dilúvio

não se coa um choro

se pudéssemos escolher
uma só coisa
p’ra ter acesso
seria à palavra-origem
do olhar do outro
depois de nos peneirar

às vezes
nos encantamos
num relance
enquanto o que fica
vem da demora

queremos ter mais controle
sobre os números
do que sobre as letras

na não-ficção
as datas importam mais

a saudade
é a contagem
de quanto tempo
uma coisa nos falta
a ansiedade
é a contagem
de quanto tempo
falta p’ruma coisa
que a gente espera
que ao menos renda
como uma poupança

não importa
de que lado da equação estou
eu sou sempre uma variável
de coração encardido

todos os dias
eu me passo numa peneira
e não há palavra’inda
no meu vocabulário
p’ra essa coisa que me sobra quando me deito.

ao momento que antecede o sono
eu chamo
separar os grãos.

Agradecemos a leitura!

Poeticamente,

--

--

Perfil Editorial da Fazia Poesia • Aqui publicamos coletâneas, artigos, chamadas e demais conteúdos da FP • faziapoesia.com.br