palíndromo carnavalesco

(um poema nada folião)

Baga Defente
Fazia Poesia

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arte original por Baga Defente

hoje é sexta-feira de carnaval

três anos atrás que eu me
mudei para casa onde
agora escrevo este poema

também numa sexta carnavalesca
quando eu tinha uns 14 ou 15 anos
pela primeira vez eu comi um
hot-dog daqueles que a gente mesmo
montava na conveniência de um
posto de combustível com amigos
na minha pequena cidade natal

numa sexta-feira de carnaval
no agora já distante ano de 2008
eu escrevi o “meu primeiro poema
cabalístico” — era esse o título —
um longo texto em versos escrito
sob forte efeito de um livro sobre
cabala que eu havia recém-comprado
num sebo qualquer da desvairada

naquela época
as nuvens só existiam no céu
e este tal poema cabalístico
apenas no hd do meu notebook

na manhã seguinte eu viajei
a trabalho fui fazer um vídeo num
evento bosta duma cidade besta
a produção nos colocou num hotel
de merda que foi assaltado durante
a noite enquanto trabalhávamos
na porcaria do tal evento bosta

meu notebook foi roubado

meu longo poema cabalístico
no qual eu havia explorado
cada uma das dez sephiroth
talvez por isso escrito quase
em estado de transe
também foi roubado

assim como o argumento
as primeiras páginas e a
apresentação do primeiro
longa metragem que escrevi
o roteiro o poema o computador
tudo foi roubado na noite seguinte
àquela sexta-feira de carnaval

hoje é sexta-feira de carnaval
como o calendário humano
é mecânico cada começo de
carnaval cai numa data distinta

neste ano que nem começou
mas já voa quis o Acaso
uma data ambigrâmica
& palindrômica:
a grama é amarga
a miss é péssima
chove leve mas faz sol

quatro anos atrás também
numa sexta-feira de carnaval
na melhor sexta-feira
de todos os meus carnavais
aconteceu nosso primeiro beijo

hoje é sexta-feira de carnaval
mas este ano não tem carnaval.

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