O poder do oi amor como foi seu dia

flavia alvs
2 min readApr 17, 2020

Depois das dez da noite, quando finalmente encerramos o expediente nesse tempo doido de quarentena, eu ligo para o meu parceiro ou ele para mim, e a gente se pergunta: e aí amor, tudo bem? Como foi o seu dia? O mesmo com a minha mãe: oi, mãe? Tudo bem por aí? E assim por diante com a irmã, o pai e mais uma meia dúzia de queridos que procuro revezar ao longo da semana na base da videoconferência. Há muito o que dizer, porque há muito sentimento sendo sentido nesse regime de exceção.

As certezas estão escassas. Talvez tenhamos, de verdade, agora, apenas o alívio de que hoje estamos bem, com saúde, e que os nossos estão bem.

Ano passado eu vi uma peça da Companhia Hiato chamada A Odisseia. Na apresentação, bem já no finalzinho, o ator Thiago Amaral sobe em cima de um andaime e tira uma foto dele com o público, tipo um selfie em perspectiva. Aí, ele começa a falar sobre olhar para o presente e efetivamente habitar ele. Falou também da importância de articular em palavras, em histórias, essa vida nossa de todo dia, por mais boba que ela possa parecer.

Ele foi lá, tirou uma foto e disse que tudo aquilo nunca mais seria o mesmo, não com a gente ali, meio bêbado, meio emocionado, sentados um do lado do outro e ninguém com medo de morrer. Mal imaginava ele, imagino eu, agora, o quão profético ele estava sendo, quando disse que nada seria o mesmo.

E aí, para capturar esses dias esquisitos, mas que não deixam de compor a nossa vida, agora, eu penso sobre a importância das histórias, a minha, a da minha mãe, a sua, as histórias de todas as pessoas que estão vivendo esse momento. Por essa razão, venho falando com um pouco mais de consciência os meus “tudo bem, como vai tudo”?

E então, o outro lado traz uma retrospectiva de memórias, às vezes boas, às vezes ruins, e essas vozes andam deixando tudo um pouco mais morno.

Da minha parte, ando incitando no meu modesto micromundo o hábito de contar as histórias do dia. Histórias que podem ser a instalação de um aplicativo de vídeo, não importa. Enquanto houver uma escuta, haverá sempre alguma coisa a se contar.

E você? E aí? Como vai tudo?

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