Não aceito jogar um jogo onde a regra é sempre perder

"Perdi". Existe um jogo que sempre que a gente lembra que existe a gente perde. Eu me recuso a jogar. Não aceito jogar um jogo onde a regra é sempre perder. Há quem diga, assim como a Amy Winehouse, que o amor tem uma premissa parecida com esse jogo. Love is a losing game. A verdade é que nos dois casos eu não aprendi a jogar. Não sei fingir não querer. Não sei bancar a desinteressada. Desinteresse não combina comigo. Não me serve bem. O desinteresse em mim parece uma calça de cós baixo.

Eu não sei jogar. Não gosto. Não entendo esse fetiche no descaso. Eu não aprendi a jogar. Ninguém me ensinou. Eu acho que frequentei a escola dos emocionados. Dos que não tem medo de uma queda livre. Livre sim é uma palavra que me cabe. Que me serve. Que me contempla. Eu sou livre. Livre e interessada. Meu jeito de ver o mundo ultrapassa as barreiras das convenções sociais. Eu odeio joguinhos. Odeio quem joga eles. Odeio quando percebo que também jogo eles. Odeio ter que jogar eles. Acho que eu não me encaixo muito nas regras desses jogos. Acho que não me encaixo muito em muitas coisas. Acho que não me encaixo muito. Acho que não me encaixo... Esse jogos deviam vir com avisos: não recomendado em casos de pessoas que gostam do que é real. Gostam do que é profundo. Cansei de me afogar no raso procurando profundo em quem é superficial. Infelizmente, ser profundo em um mundo raso costuma resultar em muitas sessões de psicanálise ou talvez poder ser profundo seja justamente resultado de anos de psicanálise. Quem nasceu primeiro...?

Eu gosto de me apaixonar. E daí? Acho que é a possibilidade de amar e ser amada que me faz gostar tanto de viver. Quem vive não tem tempo pra jogar. Porque quem gosta de viver normalmente é quem já não gostou. Eu já morei nesse mundo de desinteresse, descaso e apatia. Eu vivia nele. Na solidão dos meus pensamentos. Com medo de deixar qualquer pessoa entrar. Com medo de sentir. Rasa. Vazia. Por isso eu sou uma emocionada hoje. Porque ser emocionada quer dizer que eu to viva. É isso. Eu prefiro ser emocionada do que ser vazia. Prefiro amar do que ganhar o jogo, mesmo que amar seja um jogo de perdas. Mesmo que amar seja um jogo. Mesmo que eu nunca tenha amado. Mesmo que eu não saiba jogar. Mesmo que eu não saiba o que é o amor. Eu ainda acho que um dia vai valer a pena ou vai valer um texto bonito. Bom, em ambos os casos, eu não "perdi", eu saí ganhando.