liberdade não passa de um bairro
a casa de vidro
busca o céu
da ponta do quarto
passando pela sala
a última aresta da varanda como ponto final
suspenso
em estado de eternidade
na casa de vidro
nada fica escondido
os crimes do amor
o gesto de uma ansiedade
a verdade de uma fantasia
o cheiro do que é rotina
transparência é ter vergonha
exibicionista
das beiras do massapê
o movimento acontece
sobrepondo cal e vigília
daqui de cima: tudo pequeno
este mapa da vida real
tão possível agarrar com a mão
fazer deste mar um grande caldeirão
separar com o indicador e o polegar
humaitá bonfim ribeira e subúrbio
que em visão panorâmica
parecem se aproximar de maneira
perigosa — o ferry atracando
no terminal de paripe
a imagem estática da cidade baixa
continua bem aqui
deste ponto
e eu caminho pra despedida
ainda aqui
neste ponto
limpando da mão
o drama geral da casa de vidro
que — pelo certo
uma hora
haverá de quebrar
por ora
peço ser possível
girar o globo de plástico
e mais uma vez cair com o dedo
ainda aqui
neste ponto
onde tudo se vê
e nada sai do lugar