espelho cabeça

rodrigo uriartt
Fazia Poesia
Published in
2 min readFeb 14, 2019

--

(CC) Rodrigo Uriartt

essa pressa de caber na cabeça
qual espelho que nos vende a droga
beija a fossa, bendiz o negror
– crente cabeça cheia de ventos!

sujo espelho dentro da caverna
só sombra projetada na cabeça
um olho morto para o real, outro
suando na peleia do pão adâmico

o pecado mora ao lado
– e qual é ele mesmo?
bailar toda vida a canção louca
o Caos como Mãe… cabe na mão

quem o beijaria sem perder o gênio
o xamã dançante, o hermitão que deserta
– entre a corda esticada sobre o abismo
e o além-homem que nunca vêm?!

a presa é a vida, é um nada…
um grão de consciência no oceano escuro
pasto para terríveis anjos
ovos na cesta, pagador de contas

espelho-cabeça, diz a saída!
é o sonho que a dor consome
ou esse reflexo da luz n’olho
– diz a saída aos sublunares!

e se até hoje estamos no escuro
é que o drama é apenas drama
na trágica vida sem sentido –
sem D’us… sem mal… nem bem!

a luz decai, a noite vem chegando
vagalumes iluminam nossas ruas
já vai ser servida a janta… não se atrase
no poste tem um cartaz de cão perdido

a cabeça diz: fica! – o espelho: foi!
como a pele que sente o suave toque
o reflexo mostra o inconuto que todos sabem
a última luz do dia aquece a derradeira rosa

“Clique em Clap quantas vezes quiser e contribua com nossos poetas.
Siga a Fazia Poesia

(não é erro de ortografia: hermitão aqui é com ‘H’ mesmo, pois remete à Hermes, o deus mensageiro das coisas ocultas. Essa grafia, de ermitão com H, já aparece na carta número 9 do Tarot de Marselha, L’ Hermite)

--

--