Do azul ao cinza

Vitória Lima
1 min readMar 6, 2023

Hoje o dia nasceu azul e foi acinzentando. Às vezes, eu me sinto assim.

Quando me sinto cinza, ou sinto muito ou não me sinto. Sinto como se estivesse inflamada e sinto tudo à flor da pele. Às vezes, literalmente na pele: sinto coceiras pelo corpo e uma vontade de desmembrar cada parte que se liga a outra parte disso tudo que chamo assim, “corpo”.

Sinto um corpo pesado que se sustenta na ponta dos meus dedos, já que a cabeça sequer tem sustentado os cabelos. A propósito, sim, meu cabelo voltou a cair, na mesma intensidade em que voltei a sentir muito — ou não me sentir. Bom, talvez seja uma sequela da Covid e não deficiência de vitaminas, mas, de todo modo, há algo meu que cai e escapa a cada dia, minuto a minuto, junto com meus cabelos.

Sinto o choro de toda uma vida saindo de mim com tanta força que quase me afogo. Mas, no dia seguinte, não derramo sequer uma lágrima. Me sinto morta.

Nada me entristece, mas nada me alegra. Cinza cinza cinza como o dia ficou agora, às duas da tarde. Hoje o dia amanheceu azul e foi acinzentando.

Às vezes, eu me sinto assim.

--

--