Dezena de vinhetas indecentes
Por Bethânia.
1
Ó, sevícia, véspera da volúpia,
és também o retrogosto do orgasmo.
Que tê-lo é um suplício de saudade,
é salivar do azorrague mais fúria!
2
Ué, meu amor, por que este rosto pasmo
co’ os rasgos que trago? Fique à vontade.
Despe-te de tuas repulsas e laça
meus pulsos, meus pés e arado me invade!
3
Devagar, divo, não aleija a devassa.
Porque ela ainda há de te espezinhar,
castigar teus bagos se ouvir teus grasnos,
fazer da xota dela a tua mordaça!
4
Shh! Quieto! Quero-te hirto, sem pirraça.
É hora de agrilhoar-te um calcanhar
no outro, pôr-te de quatro e te ordenhar.
Não quero ai, piu, meh, ahn, hmm, quero muuu…
5
Eu sei, bebê, eu sei que fui inclemente,
mas é que vendo-te ultrajado eu gamo.
Agora volta, vem tu me ultrajar,
e esfola-me se eu jurar que não te amo!
6
Não dá pra ser mais vil? Beijo com dente?
Se me trata assim, depois eu não mamo.
Aliás, mamo, sim — o do teu amigo.
Vai arriscar? Vai ter coragem? Tente!
7
Ah, como eu curto te pôr de castigo!
Chupo o teu bróder com você na frente.
É que me apraz teu olhar de inimigo;
sou mais teu nojo do que o amor que sente.
8
De prazer, dor e afago tenho artigos.
Escolham — mas com juízo de criador!
Usá-los não basta; hão de reinventá-los.
Vou avaliar. Com critério e sem pudor.
9
Alto lá! Teus corpos são mais que falos!
Falta erotismo ao que chamam de erótico;
falta açoite, aroma, mijo e sabor.
E falta o afeto que dá ao sexo um halo.
10
Ó, enlevo, adie mais o teu intervalo
para não deixar este apetite órfão.
Que o fim do gozo é o início da injúria.
Se bem que a injúria é do gozo outro rótulo.