Até dez
A onda quebrando na proa
infinitas gotas de sonhos afogados
O xote ao fundo calado
pelo berro do motor do popopô
vez ou outra afoga cansado
Não é um cof-cof igual ao do vovô.
Aquele pigarro arranhado
na garganta, já escalpelou
uma-duas-três
perdi a conta!
Nesse embalar de rede molhado
meu estômago embrulhado
a ânsia de voltar derrotado
o sotaque chiado, um égua forçado
um senhor ao meu lado querendo falar.
A foto da netinha nas mãos
agora sepultada no Guajará
e o mais engraçado
é que não estou nem aí.
Nem aí pra netinha do Seu Januário
pro radinho de pilha da Dona Nenem
o motor cof-cof do Seu Mundico
Será que vai chover?
Um soar lá do trapiche ecoa
através do oco aqui dentro
um tronco seco arrastado pelo Guajará
as gotas que caem dos meus olhos
o inverno já deve tá pra chegar!
Em tempo: Poema inspirado na proposta de escrita o durante o Curso de Prosa Poética ministrado pela Monique Malcher e realizado pelo SESC RIO PRETO/SP.