Aos 25: 300 meses de vida

@ellasoueu
3 min readApr 19, 2022
se 25 é igual a 300 a matemática que me ensinaram foi uma mentira???????

Existe um experimento filosófico que questiona a realidade, a observação e que se baseia no seguinte questionamento: “Se uma árvore cai na floresta e ninguém está perto para ouvir, será que faz um som?” A adaptação millennial super cringe pra esse questionamento seria: Se eu não postar, se não tem ninguém pra ver sobre a minha vida. Me ouvir. Será que eu existo? Eu existo se eu não existo pra ninguém além de mim? Acho que me perguntei isso tantas vezes, muitas como a árvore que caiu e ninguém ouviu, outras como quem não ouviu a árvore cair.

A pandemia potencializou muito essas percepções junto com o nosso vício em consumir tudo da vida das pessoas e dividir tudo das nossas. Tudo que é bom né. E instagramável. Compartilhável. Tal qual a revelação de “Na natureza selvagem” na qual a felicidade só vale a pena se compartilhada e, isso, complementada pelo poema do Alberto Caeiro que diz “A realidade não precisa de mim. Sinto uma alegria enorme ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma”. Porque talvez reconhecer nossa pequenez nesse mundo repleto de outras pessoas seja o desapego final pra ser verdadeiramente.. não sei.. feliz??? De vez em quando. Saber que as pessoas continuarão pegando os mesmos ônibus que pegavam quando ainda estávamos aqui. Que pessoas seguirão nascendo e morrendo. Que os shoppings seguirão lotados. Que uma farmácia são joão vai ser construída no lugar daquela escola de inglês que fechou. Que pessoas vão passar. Vão casar. Fazer aniversário. Se formar. Que a vida vai seguir existindo exatamente da mesma forma que sempre existiu. Com as estações do ano que sempre teve. Com os problemas que sempre teve. E com as maravilhas também. Então qual o valor da nossa existência aqui? Não num tom depressivo ou melancólico, mas reflexivo. E, mais uma vez com toda a minha bagagem como boa adoradora de clichês: são as pessoas que cruzam o nosso caminho. Aquelas poucas que deixariam saudade quando se fossem e que sentiriam a nossa falta na nossa vez.

Claro que eu não vou resolver os grandes mistérios da filosofia ou da psique em alguns poucos minutos nesse desabafo e nem em toda a minha pequena existência nesse plano, mas a semana do meu aniversário sempre me faz pensar no que faz eu me sentir viva. O que é a vida senão uma série de impulsos que te lembram que você está vivo. Ouvir uma música nova pela primeira vez. Dar um beijo. Terminar um livro. Assistir um filme bom. Abraçar alguém. Sentir uma brisa no calor do verão. Esquentar os pés no frio do inverno. Conhecer pessoas novas. Reencontrar pessoas do passado. Não se reconhecer. Se reinventar. Sofrer. Ter o coração quebrado. Errar. Muito. Pra caralho. Descobrir que da pra amar de novo. Descobrir que não sabe o que é o amor. E uma série de decisões que ainda não tomamos. Na verdade é isso. A vida. A vida é uma série de decisões que a gente ainda não tomou. Uma viagem daqui a três anos. Um filho daqui a dez. Trocar de emprego. Esquecer um guarda-chuva. Um cartão que foi bloqueado. Virar vegetariano. Esquecer as chaves e ficar preso do lado de fora. Começar a terapia. Entrar para aquele curso de guitarra que você sempre quis fazer, fazer a primeira tatuagem com quase 60 anos. Aprender uma língua nova. Ter alta da terapia. Se mudar. A vida são as poucas decisões que eu já tomei com muitas decisões que ainda não. O lado bom é que as decisões são minhas.

Obrigada por todo mundo que nesses 25 anos me ajudou a construir um pouco dessas reflexões, lembranças e que fez eu me sentir viva com uma piada do brooklyn 99, um ouvido paciente, um violão com corda de nylon, sopas quentes e vinhos gelados. Obrigada a todo mundo que deixaria saudade em mim quando se fosse, eu sei quem vocês são e vocês também sabem.

eu to recuperando alguns textos antigos meus pra postar por aqui, esse foi escrito no dia 10 de julho de 2021

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@ellasoueu

Jornalista & Compositora. Canto e conto histórias. Journalist. Digital Nomading around the globe. Telling stories since I can talk!